quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

DOIS ANOS DE LUTA CONTRA O CÂNCER, E DOIS ANOS SEM MINHA VOZ

  COM A COMPETENTE EQUIPE MÉDICA QUE CUIDOU DE MIM NA PRIMEIRA FAZE  DA INTRODUÇÃO DO TAQUEOSTROMO,  NA ORDEM OS RESIDENTES MATEUS, MARCOS AURELIO E OS INTERNOS ANTONIO SERRA, FELIPE E DANIEL.
COM MINHA MÃE SEMPRE PRESENTE DANDO FORÇA

Quando cheguei ao Hospital das Clinicas(WUVC) no dia 26 de Dezembro de 2012 junto com meu amigo CAMILO MOTOS que  foi me deixar em Fortaleza, eu já sabia que meu problema era sério e que não ia ser fácil ser resolvido, primeiro porque eu já não tinha voz, e segundo eu tinha uma forte dispnéia(falta de ar), e terceiro porque era final de ano e eu sabia que nessa época não tinha médico para atendimento ambulatorial, mais eu sempre gostei de vencer desafios, sejam eles quais fossem, então cheguei no hospital e constatei  que realmente  não tinha médicos e que não havia nem um movimento no hospital, apenas o silêncio e corredores vazios, mas lembrei que no tempo que eu lutava pela vida dos outros eu nunca desistia, e nunca deixava nada pelo caminho, e não era no momento que eu tava lutando pela minha que eu ia desistir, então resolvi que eu ia ficar em Fortaleza na casa de uma amiga, e que no outro dia voltaria ao hospital para tentar alguma coisa, e assim fiz, fui com  CAMILO e com um amigo (SEU GERMANO) para a casa de minha amiga CARMEM, lá notei que eu começava a piorar e quase já não conseguia respirar, também não conseguia mais me alimentar, porque o cansaço que eu sentia era muito forte e não dava pra comer e respirar ao mesmo tempo, e mesmo assim a comida já não passava mais pela garganta, que parecia está bloqueada total, mesmo assim me alimentei com líquidos e repousei bastante, pois no outro dia teria uma árdua batalha pela frente. 

COM O AMIGO CAMILO MOTOS NA CHEGADA AO HUWC NO DIA 26 DE DEZEMBRO DE 2012
NO OXIGÊNIO AGUARDANDO O PROCEDIMENTO DO TAQUEOSTROMO
RECEBENDO O APOIO DA AMIGA SANDRA, FUNCIONARIA DO HOSPITAL, SEMPRE PRESTANDO SOLIDARIEDADE NOS MOMENTOS DIFICEIS.


  No outro dia cedinho peguei um taxi e rumei para o hospital, já não tinha mais nada de voz e tinha dificuldades para andar, pois cada passada que eu dava o cansaço  aumentava e eu tinha que parar para respirar um pouco. No hospital não tinha movimento algum, tava de recesso e o atendimento normal só voltaria depois do dia de ano novo, mesmo assim não desisti, pois precisava de um atendimento com urgência, então fiquei andando pelos corredores praticamente vazios, ai lembrei que na Clinica Cirúrgica sempre aparece um médico pra acompanhar algum paciente que tá internado aguardando cirurgia, e mesmo cambaleante sai pra lá, subi uma rampa longa, duas escadas e andei um longo corredor, cheguei lá nas ultimas quase já sem respirar, porem ali estavam minhas ultimas esperanças, falei com a pessoa responsável pelo setor e ela falou que o medico otorrino que tinha, ja tinha ido pela manhã cedo, e que dificilmente ele voltaria por lá, mais que eu aguardasse um pouco pois podia aparecer um outro e poderia me atender. eu sentei para descansar e aguardar, no fundo eu sabia que DEUS não ia me abandonar, nesse momento enquanto eu conversava com DEUS, passou a minha frente o DR. SEBASTIÃO DIÓGENES, Professor e Chefe do ambulatório de Otorrino do Hospital Universitário, quando o vi,  uma alegria repentina surgiu dentro de mim, só que ele passou rápido demais, e eu não podia gritar o seu nome, porque não tinha voz, e não podia acompanhá-lo, porque não tinha fôlego para seguir seus passos, mesmo assim meio cambaleante sai em seu encalço e vi quando ele entrou no elevador, ele ia fechando a porta quando eu entrei de uma vez e quase cai aos seus pés, ele me cumprimentou e perguntou como eu estava, eu quase sem conseguir falar  disse que não tava bem, e precisava de imediato da ajuda dele, alias nem falei, pois ele só de me ver, já  notou o meu estado, ele falou que eu tinha de internar com urgência, mais naquele dia não tinha um médico residente para fazer a internação, ele mesmo só tinha ido lá para assinar um documento dos alunos  e já tava de saída, eu então mostrei um exame de laringoscopia feito pelo DR CICERO SILVERIO, e ele ao ver o exame de imediato ligou para o Dr. MARCOS AURELIO, Médico Residente para que ele viesse fazer as pressas a minha internação e também introduzisse um taqueostromo para facilitar minha respiração enquanto aguardasse uma cirurgia, e também  para que eu entrasse  logo no oxigênio, e assim foi feito, só que a cirurgia ia demorar muito, porque era quinta feira dia 27 de dezembro, e o cirurgião só voltava depois do ano novo, e agüentar esse tempo todo só no oxigênio eu não ia agüentar, foi ai que veio a introdução do  TAQUEOSTROMO para que eu pudesse respirar melhor e assim ele ficar mais tranqüilo e fazer com calma os exames necessários, então logo um procedimento cirúrgico foi feito para a introdução do taqueostromo
PROFESSORA ANDREIA DO CURSO DE ENFERMAGEM DA UFC E SUA EQUIPE
DR. ANDRÉ ALENCAR E SUA EQUIPE NO AMBULATÓRIO DE OTORRINO DO HOSPITAL UNIVERSITARIO WALTER CANTIDIO
 COM PESSOAS QUE ME ACOMPANHARAM E FORAM ANJOS DA GUARDA PARA MIM

JÁ COM O TAQUEOSTROMO AGUARDANDO A CIRURGIA  DE LARINGECTOMIA TOTAL

Quando o taqueostromo foi colocado na minha traquéia, veio uma forte infecção e meu sofrimento verdadeiro começou a partir dali, pois a infecção era muito forte e até os antibióticos que também eram fortes, não davam jeito, não resolviam nada, e a cada hora eu piorava mais, e tinha momentos que eu ficava praticamente sem respirar, porque saia tanta secreção que entupia o taqueostromo, e eu começava a pressentir que minha hora estava perto de chegar, mais a paciência e a competência dos funcionários da CLINICA CIRURGICA que cuidavam de mim com tanto carinho  me fizeram superar este momento complicado.


Durante este período de recesso eu fiz duas tomografias, uma endoscopia, vários raio X  e um eletro cardiograma, quando os médicos voltaram do recesso eu fui chamado para conversar e fazer uma laringoscopia no ambulatório, a previsão era de uma cirurgia para biopsia e para retirada das lesões, mas no fundo eu sabia que meu caso não era tão simples,  e que meu sofrimento ainda tava no só começo. Fui com um médico interno até o ambulatório que ficava em outro prédio no outro lado da rua. Eu tinha certeza que eu tinha algo grave, pois eu me conhecia melhor do que ninguém. Lá chegando fiquei sentado para descansar enquanto os médicos atendiam outros pacientes, eu, mesmo com a sensação de que eu tinha algo grave, me sentia tranqüilo e preparado, até porque quando sai de casa para o hospital, eu sai preparado e disposto a enfrentar o que viesse pela frente, pois  o pior já tinha acontecido e agora não adiantava reclamar nem lamentar, era enfrentar o que viesse pela frente. Notei que DR. ANDRÉ (cirurgião e professor) conversava com os outros médicos baixinho e de vez em quando olhavam pra mim, notei que em seus semblantes tinha um ar de preocupação, então DR. ANDRÉ olhou pra mim e falou, Danilo você é muito consciente e por isso vou direto ao assunto, eu disse, tudo bem, gosto sempre da verdade seja ela qual for, ele então falou: VOCE TÁ COM CANCER, E É GRAVE, E TÁ MUITO AVANÇADO, falou também que  tinha dado problemas em todo canto, principalmente na Laringe, local afetado e que tinha me levado a viver todo aquele drama, disse também que eu tinha problema na TIREOIDE. Que eu já tinha algo grave eu já suspeitava, mas a noticia do câncer soou nos meus ouvidos como uma martelada e como uma ducha de água fria, fiquei estático durante uns 15 segundos, então eu pensei: que eu não teria noticias boas eu já sabia, porem eu tinha ido preparado, e nada eu tinha a temer. Então falei pro medico: <DR. O CANCER DESSA VEZ SE ENGANOU, COMIGO A PARADA É DIFERENTE, DESSA VEZ ELE ESCOLHEU A PESSOA ERRADA>.  DR. ANDRÉ ALENCAR sorriu, ficou mais tranqüilo e falou que o caso não era simples, a tomografia tinha apresentado um tumor na laringe e na tireóide, e que a cirurgia seria de grande proporção, porem uma biopsia seria feita durante a cirurgia, para confirmar o diagnostico da tomografia, se a biopsia fosse confirmada, a cirurgia seria feita na mesma hora, se não, um tratamento resolveria, só que a biopsia foi feita e confirmou o resultado, então uma LARINGECTOMIA TOTAL teria que ser feita, e na hora que o médico ia começar o procedimento cirúrgico o meu coração teve um problema de arritmia e a cirurgia foi cancelada, o risco de uma parada cardíaca seria muito grande, e o certo seria esperar. 





Desde então passamos a cuidar do coração e a viver o drama da cirurgia da laringe, confesso que em nem um momento desse drama eu senti medo ou deixei me abalar por todos estes problemas, não que eu seja durão, mais é que ha 13 anos eu venho me preparando para esse momento, e não ia deixar que nada me tirasse a alegria de viver.





Fiz um eco stress para ver se o coração tava bem e se agüentava  a cirurgia, mais o resultado não foi conclusivo, então achamos melhor eu passar 15 dia em casa tomando remédio para o coração e voltar depois do carnaval para tentar a cirurgia, porem  pintou uma hipótese de  um procedimento   no coração antes da cirurgia na laringe, ai aumentava a carga que já tava muito pesada,  mais é como eu sempre digo, a minha parte eu faço, o médico faz a dele, e DEUS cuida do restante , então não tinha nada a temer.


Então fiquei fazendo o tratamento para o coração e aguardando a liberação do cardiologista para que o procedimento de Laringectomia fosse feito, enquanto aguardava eu procurava me adaptar ao traqueostromo que até aquele momento eu pensava que ele seria momentâneo, mas quando foi numa tarde eu tava sentado no meu leito quando Dr. Marcos Aurélio chegou e com muita tristeza no semblante falou: Seu Danilo tenho 4 noticias pra lhe dar e não são boas, eu que até aquele momento ainda não tinha recebido nem uma noticia boa falei, pode mandar, ele falou, VOCE VAI PERDER A VOZ PR SEMPRE! VAI RESPIRAR PELO TAQUEOSTROMO PRA SEMPRE! NÃO VAI MAIS SENTIR SABOR E NEM CHEIRO! VAI TER QUE FAZER RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA! Eu então falei, Dr. Não se preocupe, não tem problema em perder a voz, pois já passei 50 anos falando, ou seja, já falei até demais, já senti os sabores que eu mais gostava e senti os mais aromáticos perfumes do mundo, o traqueostromo até que não é tão mal, e a radioterapia e quimioterapia dá pra aguentar, só quero uma coisa, ME DEIXE VIVO, AI O RESTO É COMIGO.


No dia primeiro de março de 2013 eu fiz a cirurgia de Laringectomia Total e realmente perdi tudo que o medico falou que eu ia perder, mas ele também cumpriu o que me prometeu, me deixou vivo, e hoje depois de muito sofrimento, tó aqui contando a minha historia, na certeza de que meu sofrimento ainda tava no começo e de que muita luta ainda virá pela frente, mais ai já é outra historia.







Esse texto é oferecido aos residentes DR. Marcos Aurélio, DR. Mateus, e os internos Doutores Victor, Antonio Serra e Daniel, que me acompanharam na primeira faze, e aos Drs. Rafael e Felipe, internos que me acompanharam na segunda faze, Aos Professores Sebastião Diógenes (Responsável pela minha internação) e Dr. André Alencar(Cirurgião que fez a cirurgia de Laringectomia e que me acompanha até hoje), e a todo quadro de enfermagem da Clinica Cirurgica (Técnicas, Auxiliares, Enfermeiros, Nutricionistas, Fisioterapeutas, todo o quadro funcional do hospital que não mediram esforços para que minha historia fosse contada com êxito e com um final feliz.




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